O Cabeça de Porco era um famoso e vasto cortiço no centro do Rio de Janeiro, perto de onde está, hoje, o túnel João Ricardo.
Á
sua entrada, existia um grande portal em arcada encimado por uma cabeça
de porco. Arcos, com cabeças de animais em gesso, eram comuns à época,
em quintas e chácaras.
As histórias que cercam este cortiço são contraditórias. Algumas passaram a lendas urbanas, como a que
dizem ter sido habitado por 4000 pessoas. Mas por volta de 1800 era,
talvez, o maior cortiço da cidade. Um verdadeiro labirinto arquitetônico
que se estendia da Rua Barão de São Felix até a pedreira dos Cajueiros,
no Morro da Providência. Dizem que em seu interior “havia grande número
de cocheiras com animais e carroças, galinheiros e até um armazém”,
segundo uma reportagem publicada em 1926.
Era
voz corrente que o proprietário do “Cabeça de Porco” seria o conde
d’Eu, genro de D. Pedro II; entretanto, documentos indicam a existência
de vários proprietários desde a primeira metade do Séc.XIX. Alguns
permanecem nas redondezas como nomes de logradouros públicos, como é o
caso da travessa de D.Felicidade e da ladeira do Faria.
Em
1891, o município assinava contrato com o engenheiro Carlos Sampaio,
que se propunha a abrir um túnel e prolongar as ruas até sua entrada.
Em
26 de janeiro de 1893, o Prefeito Barata Ribeiro (o mesmo que dá nome à
movimentada rua de Copacabana) baixou um decreto que permitia à
Prefeitura dar combate aos cortiços da cidade. Neste mesmo dia, começou a
demolição do Cabeça de Porco, executada pelo próprio Prefeito,
secundado de um verdadeiro exército de empregados da Prefeitura, e mais
bombeiros, funcionários da Higiene Pública, o chefe de polícia em
pessoa, policiais, sanitaristas e engenheiros.
Ângelo Agostini, em reportagem na Revista Ilustrada, assim se refere à demolição: “Quem
suporia que uma barata fosse capaz de devorar uma cabeça de porco em
menos de 48 horas? Pois devorou-a alegremente, com ossos, pele e carne,
sem deixar vestígios. E só assim a secular cabeça, que derrubou
ministérios, fez as delícias do Conde d’Eu e as glórias da respeitável
D.Felicidade Perpétua de Jesus, deixou de ser, sob o domínio impiedoso
de uma barata...” O desenho abaixo ilustrava o texto.
Mal
havia desaparecido o famoso cortiço, e os jornais já noticiavam a
construção do túnel, que só seria concluída em 1922, quando era Prefeito
o próprio Carlos Sampaio.
O
Cabeça de Porco foi consagrado como uma coleção de vícios e defeitos de
uma moradia e, como tal, incorporou-se à nossa linguagem como um
sinônimo de habitação coletiva insalubre e de má qualidade.