Páginas

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Cabeça de Porco

                                                                    Túnel João Ricardo

O Cabeça de Porco era um famoso e vasto cortiço no centro do Rio de Janeiro, perto de onde está, hoje, o túnel João Ricardo.
Á sua entrada, existia um grande portal em arcada encimado por uma cabeça de porco. Arcos, com cabeças de animais em gesso, eram comuns à época, em quintas e chácaras.
As histórias que cercam este cortiço são contraditórias. Algumas passaram a lendas urbanas, como a que dizem ter sido habitado por 4000 pessoas. Mas por volta de 1800 era, talvez, o maior cortiço da cidade. Um verdadeiro labirinto arquitetônico que se estendia da Rua Barão de São Felix até a pedreira dos Cajueiros, no Morro da Providência. Dizem que em seu interior “havia grande número de cocheiras com animais e carroças, galinheiros e até um armazém”, segundo uma reportagem publicada em 1926.
Era voz corrente que o proprietário do “Cabeça de Porco” seria o conde d’Eu, genro de D. Pedro II; entretanto, documentos indicam a existência de vários proprietários desde a primeira metade do Séc.XIX. Alguns permanecem nas redondezas como nomes de logradouros públicos, como é o caso da travessa de D.Felicidade e da ladeira do Faria.
Em 1891, o município assinava contrato com o engenheiro Carlos Sampaio, que se propunha a abrir um túnel e prolongar as ruas até sua entrada.
Em 26 de janeiro de 1893, o Prefeito Barata Ribeiro (o mesmo que dá nome à movimentada rua de Copacabana) baixou um decreto que permitia à Prefeitura dar combate aos cortiços da cidade. Neste mesmo dia, começou a demolição do Cabeça de Porco, executada pelo próprio Prefeito, secundado de um verdadeiro exército de empregados da Prefeitura, e mais bombeiros, funcionários da Higiene Pública, o chefe de polícia em pessoa, policiais, sanitaristas e engenheiros.
Ângelo Agostini, em reportagem na Revista Ilustrada, assim se refere à demolição: “Quem suporia que uma barata fosse capaz de devorar uma cabeça de porco em menos de 48 horas? Pois devorou-a alegremente, com ossos, pele e carne, sem deixar vestígios. E só assim a secular cabeça, que derrubou ministérios, fez as delícias do Conde d’Eu e as glórias da respeitável D.Felicidade Perpétua de Jesus, deixou de ser, sob o domínio impiedoso de uma barata...” O desenho abaixo ilustrava o texto.
Mal havia desaparecido o famoso cortiço, e os jornais já noticiavam a construção do túnel, que só seria concluída em 1922, quando era Prefeito o próprio Carlos Sampaio.
O Cabeça de Porco foi consagrado como uma coleção de vícios e defeitos de uma moradia e, como tal, incorporou-se à nossa linguagem como um sinônimo de habitação coletiva insalubre e de má qualidade.

sábado, 2 de março de 2013

Prata Preta e Revolta da Vacina 1904





Estivador e capoeirista, Horácio José da Silva mais conhecido como Prata Preta combateu as forças militares fazendo algumas  barricadas que ficou conhecida como Porto Artur, na praça da Harmonia, bairro Saúde no Rio de Janeiro . Liderou a resistência por vários dias. Aquele seria o último foco de revolta popular a ser rendido na região do centro.

No fim do conflito , Prata Preta esteve entre os presos deportados para o Acre, naquela época era chamado de fim do mundo.
Sua valentia e coragem lhe deram fama nos noticiários, na literatura e nas caricaturas de jornal da época, em que ele era retratado dando golpes de capoeira.
Prata Preta e seus companheiros do bairro da Saúde, onde moravam muitos dos negros vindos da Bahia em busca de trabalho na capital, tinham motivações específicas para se revoltar contra a vacina obrigatória, grande plano do sanitarista Oswaldo Cruz  que era secretário de Saúde da época.

Adepta do Camdomblé, a população negra recusava-se a vacinar por princípios religiosos. Esse culto na época, estava proíbido pelo governo, sob acusação de "feitiçaria". Os praticantes da religião acreditavam que determinadas divindades tinham poder sobre algumas doenças. Entre esses deuses, está Omolu ou Obaluaiê, que seria o orixá responsável pela varíola. Os poderes de Omolu não se resumiram a causar a varíola: podiam também atenuar seus efeitos. Cultos e sacrifícios rituais eram oferecidos ao orixá, pedindo proteção contra o mal.
Assim, era difícil que a vacina vinda dos médicos tivesse credibilidade entre os seguidores do Candomblé. E era preciso resistir a ela.

No ano em que a Revolta da Vacina completou 100 anos, o Prata Preta voltou a circular pelas ruas e ladeiras do bairro da Saúde, não mais de forma ameaçadora, mas esbanjando alegria através de centenas de foliões ao som das tradicionais marchinhas de carnaval .  Suas cores "vermelho, branco e azul" são em homenagem a S.D.P Filhos de Talma e a A.R.E.S Vizinha Faladeira.

"Viva o Zumbi do bairro da Saúde"

sábado, 10 de novembro de 2012

Bairro da Gamboa


       O nome desse bairro, que tinha uma das mais antigas praias do litoral urbano, está ligado a Gamboas, ou Camboas, que eram pequenas represas, feitas pelos pescadores locais, para prender os peixes que entravam nas águas calmas e cheias de peixes entre a Praia da Saúde e o Saco do Alferes.

       Gamboa também deu o nome à praia e ao saco, existentes no local. Outros nomes foram dados a essa região, como praia do Chichorro, das Palmeiras, do Propósito e do Lazareto. O acesso se dava pela rua do Cemitério, atual rua Pedro Ernesto, que a ligava ao Valongo. Na Praia da Gamboa, junto às encostas do morro da Providência, foi fundado em 1809, pelo embaixador britânico Lorde Strangfort, o “British Burial Ground”, o Cemitério dos Ingleses, para enterrar os protestantes.

       Ao longo do tempo, a região da Gamboa foi se tornando uma área de atividades portuárias, incrementadas pelo ciclo do café, repleta de trapiches e armazéns. O maior proprietário de terras do local era o Barão da Gamboa, dono de extensa chácara que, em 1852, abriu e prolongou ruas em seus terrenos, criando lotes urbanos. A proximidade do terminal ferroviário com o litoral propiciou a abertura de um túnel sob o morro da Providência e a instalação, em 1879, da Estação Marítima, localizada no Saco da Gamboa. Com o aterro de toda essa orla para a construção do Cais do Porto, projeto elaborado em 1903 por uma comissão presidida pelo Ministro Lauro Muller e concretizado pela empresa de Paulo de Frontin, o Saco da Gamboa desapareceu e foi ocupado por terminais ferroviários de cargas.



sábado, 3 de novembro de 2012

Estrada de Ferro Central do Brasil


                                                         

    A construção da Estrada de Ferro D. Pedro II se fazia necessária, pois o país necessitava dar escoamento à produção dos produtos agrícolas destinados à exportação e ao abastecimento interno. Suas raízes históricas remontam ao dia 1º de julho de 1839, quando o médico homeopata Thomaz Cochrane requereu ao Parlamento Brasileiro o privilégio exclusivo para organizar uma companhia que construísse uma linha férrea cujo traçado, começando na Pavuna e subindo a Serra do Mar, chegasse até Vila de Resende, acompanhando a margem do rio Paraíba. Mesmo tendo conseguido, em 1840, a concessão, Cochrane teve seu contrato rescindido mais tarde, pois não conseguiu dar início a obra, após sucessivos pedidos de adiantamento.
 

   Somente 15 anos depois, com a aprovação de seus Estatutos, ficou constituída a Companhia Estrada de Ferro D. Pedro II . Em agosto do mesmo ano, sob a direção do engº Christhiano Benedicto Ottoni, foram iniciados os trabalhos de construção. O projeto previa uma via férrea que atravessasse alguns municípios próximos à Capital, seguisse pelo Vale do Paraíba e, daí as Províncias de São Paulo e de Minas Gerais. De Minas, as linhas seguiriam pelo vale do rio das Velhas até o rio São Francisco, onde se encontrariam com o sistema fluvial, unindo assim, o Sul ao Norte.
 

   Apesar dos inúmeros obstáculos, no dia 29 de março de 1858, com a presença do Imperador D. Pedro II, da família imperial e de inúmeros convidados, foi inaugurada a primeira seção da ferrovia, com a extensão de 47,210 quilômetros, entre a Estação da Corte e a localidade de Queimados, tendo estações intermediárias em Cascadura e Maxambomba, atual Nova Iguaçu.
 

   No regresso a Estação da Corte, do trem especial que havia conduzido a família imperial e convidados até a Estação de Queimados, Christiano Benedicto Ottoni, construtor e primeiro Diretor da ferrovia, recebeu o título de Conselheiro do Império. Era a terceira ferrovia inaugurada no país. Pouco antes, no dia 8 de fevereiro, havia sido aberta ao tráfego a Estrada de Ferro Recife a São Francisco.
 

   Em novembro do mesmo ano, a linha chegou a Belém, atual Japeri, com mais 13 quilômetros.
Em 15 de novembro de 1889 é proclamada a República e por aviso do Governo Provisório, a partir de 22 de novembro a Estrada de Ferro D. Pedro II passa a denominar-se Estrada de Ferro Central do Brasil.




domingo, 8 de julho de 2012

Hospital da Gamboa


      Construído no alto do pequeno morro da Gamboa, o hospital Nossa Senhora da Saúde e a igreja em estilo neogótico, erguida ao seu lado, destacam-se na paisagem cais do porto.

     A história do hospital tem início por volta de 1840, quando Dr. Antônio José Peixoto alugou antiga chácara ali existente e instalou uma casa de saúde.

     A partir daí , o Dr. Peixoto passou a oferecer atendimento médico e cirúrgico para viajantes marítimos, mantento inclusive uma enfermaria para escravos. A epidemia de febre amarela, ocorrida em 1853, levou a Santa Casa da Misericódia a comprar a casa de saúde para servir de hospital de emergência. A escolha não foi por acaso. A junta Central de Higiene Pública levou em conta as vantagens oferecidas pelo local: altitude do sítio, isolamento do resto da cidade, exposição aos ventos da baía de guanabara, vegetação abundante.

      Devido à forte incidência de outras epidemias que assolavam a cidade, ainda nos anos 1850 prédio se expandiu com a construção de mais quatro enfermarias. As epidemias continuaram de tal maneira assolando o Rio que, em 1877, a direção do hospital foi obrigada a construir uma ponte para o embarque dos mortos, por via marítima diretamente para o cemitério do caju.


    Em 1890, foi concluída a construção da capela ao lado do hospital, que passava então por um período de franca expanção em seus serviços. Essa fase empreendedora perdurou até os anos 30, quando começou a decadência, correndo o risco de ser demolido, tamanho era o estado de abandono em que se encontrava.

Felizmente o hospital da Gamboa conseguiu reergue-se e em 1986 suas instalações foram tombadas pelo patrimônio histórico.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Mercado de Escravos do Valongo

          Depois da transferência do comércio de escravos para o Valongo, ainda no século XVIII, a área passou a contar com um intenso movimento de mercadores da mão-de-obra fundamental no Brasil naquele tempo. O Valongo tornou-se o grande empório de um comércio malvisto e lucrativo, sediando escritórios de corretores de escravos, armazéns-depósitos para negros recém chegados da África e um comércio paralelo, que incluía tabernas frequentadas por marinheiros e ciganos que exploravam o tráfico negreiro. Outra atividade lucrativa que se instalou no local foi a fabricação de objetos de ferro destinados a prender e torturar os escravos. Os senhores compravam a mão-de-obra juntamente com o material necessário à sua manutenção.
        Conta-se que atrás do Jardim do Valongo construído no início do século XX existiu uma "casa de engorda", destinada a alimentar os negros recém-chegados, para que alcançassem melhor preços.Essa prática era necessária porque, na viagem por mar; os escravos que não morriam chegavam magros e doentes, devido às péssimas condições sanitárias dos porões dos navios negreiros.
          Maria Graham, viajante inglesa que esteve no Rio, por duas vezes, na década de 1820, visitou o Valongo, em 1821. Assim ela descreveu a rua do Valongo, atual Camerino: "De ambos os lados estão armazéns de escravos novos chamados aqui "peças", e as desgraçadas criaturas ficam sujeitas a todas as misérias de um negro novo, escassa dieta, exame brutal, e açoite".
         A crescente repressão inglesa aos traficantes e ao comércio negreiro acarretou, a partir de 1831, uma gradual desativação do mercado de escravos do Valongo.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Cemitério dos Ingleses


Até o início do século XIX, o Rio de Janeiro não possuía cemitérios em terrenos próprios, ao ar livre. Os mortos eram depositados em catacumbas dentro das igrejas ou de conventos, o que com o tempo foi criando problemas de ordem higiênica.
Logo após a chegada de D. João VI ao Rio, Lorde Strangfort, nobre inglês que acompanhava a comitiva real, conseguiu autorização para erguer um cemitério protestante na cidade. Em 1809, ele comprou a chácara de Simão Martins de Castro, numa encosta no morro da Providência, na Gamboa, para ali ser instalado o cemitério britânico. A partir de 1811, iniciaram-se no local enterros de ingleses e outros europeus da fé protestante.
  

Depois de três décadas, já com o imperador D. Pedro I visitava o cemitério com alguma regularidade, porque pretendia acostumar "os brasileiros a enterrar os mortos em campo aberto". Já se pensava em acabar com hábito dos enterros nas igrejas, o que só veio a ocorrer vinte anos depois. Em 1986 foi tombado, devido a sua importância histórica e paisagística.