Depois
da transferência do comércio de escravos para o Valongo, ainda no
século XVIII, a área passou a contar com um intenso movimento de
mercadores da mão-de-obra fundamental no Brasil naquele tempo. O Valongo
tornou-se o grande empório de um comércio malvisto e lucrativo,
sediando escritórios de corretores de escravos, armazéns-depósitos para
negros recém chegados da África e um comércio paralelo,
que incluía tabernas frequentadas por marinheiros e ciganos que
exploravam o tráfico negreiro. Outra atividade lucrativa que se instalou
no local foi a fabricação de objetos de ferro destinados a prender e
torturar os escravos. Os senhores compravam a mão-de-obra juntamente com
o material necessário à sua manutenção.
Conta-se que atrás do
Jardim do Valongo construído no início do século XX existiu uma "casa de
engorda", destinada a alimentar os negros recém-chegados, para que
alcançassem melhor preços.Essa prática era necessária porque, na viagem
por mar; os escravos que não morriam chegavam magros e doentes, devido
às péssimas condições sanitárias dos porões dos navios negreiros.
Maria Graham, viajante inglesa que esteve no Rio, por duas vezes, na
década de 1820, visitou o Valongo, em 1821. Assim ela descreveu a rua
do Valongo, atual Camerino: "De ambos os lados estão armazéns de
escravos novos chamados aqui "peças", e as desgraçadas criaturas ficam
sujeitas a todas as misérias de um negro novo, escassa dieta, exame
brutal, e açoite".
A crescente repressão inglesa aos traficantes e
ao comércio negreiro acarretou, a partir de 1831, uma gradual
desativação do mercado de escravos do Valongo.